quarta-feira, 8 de julho de 2015

A "anja"



Muito alegres descemos os degraus da casa.
Pequenos grupos de pessoas cruzavam-se connosco. Munidas de toalhas e guarda-sóis pareciam alegres e pacientes por chegar à praia. 
Um menino baloiçava o seu baldezinho que continha utensílios de plástico para brincar na areia.
A areia brilhante aquecia-nos os pés e o odor a praia fazia-nos sonhar.
A possibilidade de atravessarmos a pequena linha de comboio deixava-nos com uma sensação de responsabilidade.
Usávamos fatos de banho idênticos. Vermelhos com listas brancas. De gosto singelo, a nossa mãe vestia-nos e penteava-nos como se fossemos gémeas. Os nossos rostos diferentes criavam o contraste perfeito.
Chegando à praia, a descontração que tínhamos inicialmente desvaneceu-se por completo ao encontrarmos muitas pessoas instaladas na areia ou banhando-se alegremente.
Como não levávamos nenhuma toalha, a primeira reação que tivemos foi encaminharmo-nos para a água.
As primeiras ondas refrescaram-nos os pés…. Demos gritinhos de frio e fomos avançando devagarinho e deixando que os nossos corpos se habituassem à temperatura.
Era deliciosa a sensação que a água fresca fazia ao embater com força nos nossos corpos.
Avançámos até um limite em que podiamos ver adultos ocultos pela água até à cintura.
Poucos momentos depois, senti que as ondas tinham mais força que a minha firmeza e deixei-me cair na água. Por muito que tentasse levantar-me, sentia novas ondas empurrando-me. Comecei a sentir desespero, mas não conseguia chorar…
Foi quando vi as suas pernas... Eram fortes, tal como o resto do corpo e usava um fato de banho preto. Vi-a debruçando-se perto de mim e segurou-me pelos braços…
Assim que senti o ar, respirei com alívio e afastei-me daquele ponto, ao mesmo tempo que me virava para trás tentando ver a senhora que me tinha ajudado… Mas não encontrei ninguém que usasse um fato de banho preto…
Avancei para a margem da praia… Encontrei minha irmã que olhava para todos os cantos, procurando por mim.
Decididas, voltamos para o local junto às casas, e onde nos tinha sido permitido brincar…
Chamei-lhe de "anja" e ganhei respeito às ondas nesse dia.

(Imagem encontrada na Internet)